Friday, June 19, 2015

Pausa e fim.

Eu já abri e fechei alguns vários blogues. Na verdade, o original ainda está aqui, mas em modo privado e, acho, perdeu os comentários. O tom era mais poético e, relendo-o outro dia, vi uma parte de mim de que sinto saudades. E tenho uma nova versão de outro, o segundo mais prolífico do meu histórico blogueiro, que pouco atualizo e tem uma temática mais específica, menos pessoal.
Eu comecei a blogar porque estava numa época difícil e gostava de traduzir isso de forma um tanto pretensiosa em versos que não rimavam e, não sei o porquê, fazia mais sentido colocar tudo numa plataforma pública do que num diário. E trocava muitas ideias com os outros blogueiros, tornei-me amiga de duas - uma vem me visitar agora em julho -, havia um sentimento de pertencer a algo novo, diferente.
Até hoje não percebo muito bem os meus sentimentos em relação a me expôr - eu gosto de publicar aqui, mas não gosto muito da atenção que possa atrair. No primeiro blogue, não me importava. Nos demais, mais ou menos. Eu realmente não sei o motivo, mas a verdade é que estou sempre muito ciente do que escrevo ou deixo de escrever. Ou de quem possa ler. O mesmo se aplica ao Facebook, é uma tormenta eterna.
Eu acho que prefiro conversar sobre a vida do que escrever sobre ela, a não ser que tivesse algum talento para trabalhar com ficção (bom, eu às vezes trabalho com ficção, mas não como criadora) ou fosse alguém com ideias filosóficas realmente brilhantes. Eu prefiro, também, escrever profissionalmente, o meu português e as minhas ideias soam melhores. Eu sou meio utilitária com a escrita - ou será que virei utilitária?
E, com exceção do blogue sobre comida que também está em modo hibernação, eu pouco bloguei nos anos mais recentes. Houve o blogue da minha estadia no Porto. O do retorno a Londres. Eu acho que tento marcar essas fases com um diário, mas logo perco a motivação ou a disciplina para atualizar.
Após vários dias - meses, talvez - ponderando sobre que volta a dar neste blogue, não cheguei a uma conclusão. A começar pelo título, que não é o que eu queria porque as outras opções já estavam tomadas - por pessoas que sequer se deram ao trabalho de escrever mais de um post no blogue -, eu não encontro uma temática que me dê ânimo de escrever, enfim - acho que cansei, de vez agora, de blogar sem propósito ou com o cuidado merecido. Quando escrevo aqui, sinto como se estivesse a jogar energia fora.
Desta vez, quero mesmo tomar vergonha na cara e parar até encontrar um foco.
Vou colocar o blogue em modo privado em alguns dias e depois, bom, depois vamos ver no que dá.

Saturday, May 9, 2015

Botânica


Eu e V. tivemos uma semana difícil e, com o tempo escabroso do Dia da Mãe, não houve comemoração. Precisávamos espairecer.
Nunca tinha ido ao Jardim Botânico do Porto. Gostei bastante, só faltam uns banquinhos para pausas de contemplação e descanso. V. também aprovou, mas disso não tinha dúvidas.









Tuesday, May 5, 2015

Como num blog famoso

A sério, vou começar a publicar comparações de roupas para meninas, por marcas ou lojas. É mesmo fascinante o quanto cobram por um pedacinho de pano que pode servir por, no máximo, um ano (também pode ser passado adiante, não precisa ser descartável, há um meio-termo para quase tudo). É claro, há a qualidade e isso não se discute. É claro que há os meios de produção e distribuição da roupa, tudo isso conta no preço final. Quem pode, pode, por que não? Mas há quem precise ficar de olho no orçamento.

Tie dye para quem pode, tie dye para quem tenta (um é vestido, a outra é blusa, mas o conceito é semelhante, vai):

À La Redoute:


À la Knot:




Thursday, April 30, 2015

All by yourself

Eu há alguns anos trabalho em casa, o que pode parecer um tanto romântico e ideal.
No meu caso, não foi uma escolha espontânea, mas circunstancial. Em parte, devido aos contextos da minha vida; em parte, porque, na minha área, não há muitos empregos, os profissionais tendem a ser freelancers mesmo.
Eu sinto falta de estar num ambiente de trabalho "normal", porque gosto de feedback do que estou a fazer, gosto de aprender com colegas e chefes, de socializar para fofocar (sim!) e tomar um café ou uns copos, gosto da troca, pronto. Mas, claro, esses são os positivos.
Do que menos gosto são os horários, não porque tenha preguiça de acordar cedo ou coisa do gênero, não. A minha birra é com tempo gasto no escritório quando não há nada de muito útil a fazer. Tempo que pode ser dedicado a outras coisas, como o descanso ou outros trabalhos.
Em geral, no Brasil, não gostava da ética profissional. Das relações com os chefes, da rigidez dos horários, da exploração em alguns casos. Fui mais feliz como freelancer.
Na Inglaterra, adorava trabalhar e trabalhei em vários lugares e funções diferentes. Comecei com o tradicional emprego num restaurante - que amava, mas era um bocadinho explorador -, e tive experiências muito legais e enriquecedoras, incluindo a no funcionalismo público. Sinto saudades de todas elas e das pessoas que conheci.
Eu gosto, acima de tudo, de aprender e por mais que possamos ser autodidatas, é sempre mais interessante quando isso acontece na relação com o outro.
Como um emprego para mim agora não é viável - e não sei se voltará a ser -, acho que, em algum momento, vou ter de tomar uma providência. Quais são as opções?
A Marta Stelmaszac, um tradutora polonesa radicada em Londres, fala nesse vídeo (em inglês) sobre os desafios de trabalhar sozinha(o) em casa e de possíveis soluções. Sim, nem todos os freelancers são tradutores, óbvio, mas acho que as dicas valem para todo mundo nesse barco de solidão e trabalho duro. Vale a pena uma espreitada.

Sunday, April 26, 2015

Memórias falsas

Dizem que guardamos memórias falsas, inventadas da infância.
Eu tenho as minhas, embora não saiba dizer se são inventadas ou parcialmente falsas.
Há uma, bem vívida, de ver um homem de terno, sem cabeça, avistado da janela da segunda casa em que vivi. Essa é claramente uma mistura de falsa e inventada.
Há outra, de ver o coração de um animal na calçada e, por algum motivo que me escapa, ter certeza de que era humano.
Tem a dos fantasmas do meu quarto. Pessoas que não conhecia e apareciam diante da minha cama, ou à porta, no meio da noite. Às vezes, eram os vivos em forma etérea, familiares - minha mãe, prima, avó.
Tem uma, porém, que eu acho que é apenas difusa, talvez um pouco inventada.
De estar no fundo de uma piscina vazia, a ler um livro ilustrado de borboletas, dado a mim por uma moça muito amável, de quem só me lembro como uma presença benigna, alguém que trazia um certo conforto, uma felicidade que só as crianças apreciam. Ela era relacionada aos amigos do meu pai, não sei se foi a que morreu precocemente, ou uma que sumiu do mapa. Só a minha mãe poderia esclarecer isso, mas ela não está mais aqui.
O fato é que tínhamos uma piscina, pequena e rasa, construída no quintal. E que tinha uns livros assim, que foram doados sem o meu consentimento e desapareceram juntamente com a piscina - a área foi convertida em bancos para o convívio familiar. Ah, o utilitarismo.
Até hoje, quando vejo borboletas em ilustrações, lembro-me da moça sem rosto. De gostar dela. E me dou de conta de que é possível que nada disso tenha acontecido assim. De que é possível que não tenha passado de um sonho intenso na infância. De que é possível que a moça não tenha me dado o livro (mas me deu um baralho de joaninhas, disso tenho certeza, eu tinha um baralho de joaninhas em tons de laranja presenteado por uma amiga do meu pai), de que não tenhamos lido o livro das borboletas sentadas no fundo da piscina. É possível, mas eu queria muito que isso tivesse acontecido e que minha mãe pudesse me ajudar a esclarecer.


Saturday, April 25, 2015

A inveja

A palavra "inveja" costuma aparecer muito nas conversas femininas.
Quando não gostamos do look, ou das escolhas de vida, ou das compras da outra é sempre a justificativa mais fácil: "é inveja".
É uma constatação simplista - se eu discordo de algo que, possivelmente, não está ao meu alcance, é porque tenho inveja.
Elevando esse tipo de raciocínio à extrema arrogância - achar que eu sou digna e vítima da inveja.
A inveja e a admiração caminham lado a lado. Como dizemos no Brasil, às vezes temos uma "inveja branca" (perdão se enxergarem alguma conotação racista na criação do termo, não foi invenção minha), aquela inveja do que o outro tem, sem ressentimentos, sem lhe desejar mal.
Não, nem sempre é a inveja. Às vezes é só mau humor, uma indignação legítima ou uma sensibilidade um pouco mais à flor da pele num determinado dia.
Isso de enxergar a inveja em tudo que não seja submisso ou concordante talvez seja mais uma daquelas projeções. Talvez, seja uma espécie de inveja.

Monday, April 20, 2015

Bristol



Eu não sinto muitas saudades de Bristol, mas sinto um pouquinho de saudades de certos elementos da nossa vida em Bristol. Dos passeios, de alguns restaurantes, do centro de recreação infantil pertinho de casa (não era grande fã de algumas das mamães, nomeadamente as da última turma que frequentamos, mas gostava muito das atividades que o local oferecia), principalmente.
Uma das coisas que mais me doem em relação à nossa mudança, traumática e apressada, foi não ter podido me despedir e tirar algumas fotos do meu bairro como pretendia; entre tantos outros prejuízos e incômodos, a antecipação da data de partida destruiu essa possibilidade. Queria, também, ter me despedido do restaurante indiano onde todos eram tão simpáticos conosco. Ter visitado o Wye Valley, que era colado à nossa área. Ter ido à não muito distante Jurassic Coast passar um fim de semana. Comido no Ethicurean.
Foi tudo isso que faltou.
Porém, se quiser me redimir e ficar um pouquinho mais pobre, a Easyjet agora voa Porto-Bristol (como isso teria me feito feliz enquanto lá morava!). Na verdade, prefiro esperar a V. estar um pouco mais crescida e esperta, afinal, é a cidade onde ela nasceu e quero muito que a conheça (embora já a conheça bem, o que é estranho).

Mas o que há para fazer em Bristol, uma cidade tão pouco conhecida turisticamente falando? Alguns fatos e dicas (algumas em posts daqui com a etiqueta "Bristol"):


  • Bristol é cidade gêmea do Porto e, em comum com a Invicta, tem o casario colorido de algumas áreas elevadas, o rio (Avon) e a ponte (Clifton Bridge) como cartões postais, as ladeiras. Há até um cantinho nas docas que homenageia o Porto, o Porto Quay.
  • Bristol tem um dos piores trânsitos do Reino Unido. E um sistema de transporte público bastante limitado se comparado a Londres, por exemplo. As conexões ferroviárias entre os bairros são poucas, não há metro e os autocarros têm horários pouco confiáveis (como quase todos os autocarros do mundo, vale dizer). As corridas de táxi costumam sair bem caras em horários de pico e aos fins de semana. Portanto, hospede-se num ponto estratégico e, caso contrário, alugue um carro durante a sua estadia (isso vale mais a pena se quiser também viajar pela região) ou verifique com o seu hotel as opções de estacionamento e transporte público para o centro. 
  • Bristol é e terra de Banksy, portanto vale a pena sair à caça dos graffitis famosos e tirar aquela foto para a posteridade. Mas a cidade tem outros grafittis legais, é só ficar atento.



  • Para quem vai com crianças, há bastante a fazer no quesito "programas com a família". O Bristol Aquarium, o Bristol Museum & Art Gallery, o At-Bristol e o Bristol Zoo estão entre as opções mais centrais. Para os adultos, há o teatro no Old Vic, o cimema do Watershed e seu café, mais o Arnolfini, espaço de arte contemporânea, também às margens das docas, no outro lado do Harbourside (que, aliás, tem opções decentes de restauração e uma feirinha de artesanato aos fins de semana). Dá para percorrer tudo a pé se você se hospedar no centro.

  • Bristol é um dos destinos gastronômicos mais badalados do Reino Unido no momento. Há excelentes opções, tanto para comer sentado como de comida de rua. Porém, vários dos bons restaurantes estão em sítios mais rurais (o que torna tudo ainda mais especial) nos subúrbios (você vai precisar de um carro ou pegar um táxi). Algumas recomendações no centro e uma no campo: o San Carlo (italiano na Corn Street que tem de tudo, comida excelente, atmosfera e um atendimento simpático, maravilhoso); o The Olive Shed, comida mediterrânica deliciosa com vista para as docas; o The Ox (para quem gosta de carnes, é numa cave à meia-luz), o The Pony and Trap (pub com estrela Michelin na categoria, meio apertado e precisa reservar, mas muito bom no quesito gatsropub), o The Kensington Arms (pub que já foi eleito o melhor de Bristol e faz você se sentir em casa, divinal em tudo); os "cafés" do St Nicholas Market (minúsculos, mas ótimos, tem comida portuguesa, italiana, marroquina e britânica a preços em conta; dica: se não quiser comer espremido no mercado, ou de pé, um dos pubs ao lado deixa você levar a sua refeição se for beber uns copos por lá) e a comida de rua das barracas da Corn Street e região; os peixes e mariscos do The Spiny Lobster (antes, The Rockfish, quando o conheci e comi o melhor arroz doce do mundo, com toffee e curd de laranja); explorar as ruas e cafés de Clifton e da Whiteladies St.
  • Um dica preciosíssima de refeição ligeira, numa área ótima para compras, perto da Park Street (onde você encontra filiais de redes de restaurantes como Wagamama e Jamie's Italian, e boas lojas): o Friska, um café com um conceito muito legal, que tem a melhor sopa de noodles que provei na vida (e já provei muitas, vem nas opções frango grelhado, porco puxado e vegetariana) e, também, uma loja de discos, livros e parafernália pop no andar de cima. As doses são pequenas, mas não faltam petiscos e doces para complementar a refeição. É um lugar de que tenho saudades.


  • Compras no centro: região de Broadmead, incluindo o Cabot Circus, um centro comercial aberto com opções habituais de restauração (nada muito entusiasmante, entre as mais decentes em termos de fast food, recomendo o Nando's e o Gourmet Burger), e as The Galleries.
  • Se vai ficar mais de dois dias, vale a pena pegar o trem e fazer a viagem brevíssima até Bath (17mins, da estação de Bristol Temple Meads) e conhecer uma das cidades mais lindas do mundo (merece, no mínimo, uma longa tarde). Ou mesmo, para Cardiff, no País de Gales. Ou pegar o carro e atravessar a Severn Bridge (uma atração por si só) e respirar ares verdes galeses. Ou visitar Stonehenge, não muito distante (outra viagem que faltou fazer).


Estas são dicas mainstream para quem vai ficar poucos dias, dentro da zona central, e dão uma noção do que a cidade e os arredores têm a oferecer. E, quem sabe, voltar para provar e descobrir mais. Quem sabe?